O especialista em estatísticas relacionadas à pandemia do novo coronavírus Domingos Alves realizou uma projeção da situação atual do Brasil devido à covid-19 e, com a marca próxima de 100 mil vítimas fatais da doença, ele diz que o país pode alcançar a marca de 200 mil mortes até o mês de outubro, caso seja mantido o ritmo atual.

AFP

O coordenador do LIS (Laboratório de Inteligência em Saúde) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto informou em entrevista concedida à agência AFP que as autoridades são responsáveis pelos números altos de óbitos por covid-19 no Brasil.

Ele criticou duramente a gestão do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), atribuindo a catástrofe ao "negacionismo" do presidente frente à pandemia, criticando também o relaxamento precipitado da quarentena e a falta de medidas que realizassem a contenção do contágio por coronavírus. O coordenador chamou a atual situação do país de "sacrifício da população".

O tema vem causando os mesmos debates em torno das instituições de saúde e governos de outros países. Bolsoanro chegou a ser denunciado por genocídio e crime contra a humanidade na Corte Internacional em Haia.

Projeção

De acordo com a projeção de Domingos Alves, caso não mude a tendência, o Brasil deve chegar a 200 mil mortes por coronavírus até o dia 15 ou 16 de outubro.

A projeção para 100 mil mortes também feita por ele, tinha como base a data de 9 a 10 de agosto, porém a situação ocorrerá antes do imaginado. De acordo com o coordenador, devemos atingir a marca até o próximo dia 7 ou 8 deste mês, informando assim que pode-se adiantar as 200 mil mortes para a primeira quinzena do mês de outubro.

Vacina

Domingos não acredita que a situação do Brasil mude antes que receba o acesso a uma vacina eficaz. Na opinião dele, o número de contaminação e mortes pela doença acelerará nos próximos dias ou semanas, e que não vê uma mudança de quadro antes de dezembro.

Um dos fatores relevantes é a presença de casos em regiões de interior, onde inicialmente não existia a confirmação do vírus, o maior número de contaminações estava nas capitais e grande metrópoles do Brasil.

Com o passar da pandemia este quadro já vem mudando, e o coronavírus passou a atingir estas regiões, entre elas a região Sul e Centro-Oeste do país.

Ainda de acordo com Domingos, o Brasil é um dos países que menos testam no mundo, porém alega que a subnotificação diminui de 16 para 7 graças ao aumento de testes, que ainda não é o ideal.

Catástrofe

Ao ser questionado pela catástrofe em que o Brasil se encontra, e o que levou o país a apresentar um quadro tão dramático, o coordenador reforça o negacionismo em torno da pandemia por parte do Governo federal. O especialista afirmou que este quadro não mudou com o número de mortes e com o decorrer dos meses, Jair Bolsonaro ainda acredita que a covid-19 é apenas uma "gripezinha", como ele mesmo intitulou, e com isso não foi criada nenhuma medida eficaz ou uma política integrada que vise combater a pandemia do novo coronavírus.

As medidas de relaxamento, de acordo com ele, também jamais poderiam ter acontecido com um número crescente de contaminações e mortes. Outro fator citado foram as eleições deste ano, que fazem com que prefeitos e governadores acabem focando em suas candidaturas no segundo semestre.

Todas as medidas realizadas para a "retomada da economia" são feitas a base do sacrifício da população, afirmou.