De acordo com o jornal americano The Washington Post, em matéria publicada na sexta-feira, 20, Donald Trump foi avisado por agências de inteligência dos Estados Unidos sobre o risco de uma pandemia ainda em janeiro, mas ignorou os alertas.

Os relatórios sobre a doença covid-19, provocada pelo novo coronavírus, foram apresentados nos meses de janeiro e fevereiro, antes de haver contaminação nos E.U.A., mas Trump e outros políticos não tomaram ações para reduzir os possíveis riscos de chegada do vírus ao país. A informação foi passada ao Washington Post por oficiais com acesso a relatórios de espionagem.

Apesar de os documentos não terem oferecido uma previsão de quando o vírus poderia chegar às Américas, eles apontavam para a existência de contaminações em outros países. Falavam, ainda, da probabilidade de as autoridades chinesas estarem minimizando a gravidade da situação e da potencialidade que a doença tinha de se tornar uma pandemia.

Ainda de acordo com o jornal, Donald Trump continuou a ignorar ou a diminuir a ameaça e, mesmo com a insistência de membros do governo que tinham ciência dos relatórios, não foi possível convencê-lo a tomar atitudes mais sérias até o início de março, quando o número de contaminações em território americano já havia se alastrado.

Em reunião com colegas chineses, o diretor dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças americano foi informado da epidemia em 3 de janeiro.

Membros da Casa Branca tentaram conversar com Trump

Alex Azar, à frente da Secretaria de Saúde e Serviços Humanos, relatou que somente conseguiu conversar sobre o vírus com o presidente em 18 de janeiro, mas que fora interrompido pelo chefe do Poder Executivo por uma pergunta a respeito de cigarros eletrônicos com sabor (proibidos nos E.U.A.

em fevereiro).

Em fins de janeiro e início de fevereiro, o número de relatórios da inteligência se tornaram mais numerosos e todos incluíam informações sobre a covid-19. O aumento do volume de relatórios coincidiu, inclusive, com a decisão do senador Ronald Burr de vender uma série de ações que detinha na bolsa de valores, a preços que chegaram a mais de 1,7 bilhão de dólares.

Posteriormente, a equipe da Casa Branca foi novamente alertada sobre a seriedade do vírus e a necessidade de tomar ações preventivas, caso contrário, isso colocaria em risco a reeleição de Trump. Foram realizadas diversas reuniões, mas o presidente continuava a não considerar o assunto como prioridade, acreditando não haver casos nos Estados Unidos.

Uma das reuniões feitas por membros da Casa Branca gerou preocupação sobre a ameaça de transmissão pública quando diplomatas estadunidenses que estavam em Wuham retornaram a solo americano. A necessidade de retirá-los da China apontava para a existência de um risco real à saúde.

Em 27 de janeiro, durante um encontro entre o chefe da equipe presidencial, Mick Mulvaney, e o responsável pelo Conselho de Política Doméstica da Casa Branca, Joe Grogan, foi levantada a hipótese de que as ações para lidar com o vírus poderiam dominar a política e a vida das pessoas nos E.U.A.

por vários meses.

Presidente comparou a doença a uma gripe

Ainda assim, Trump continuou a declarar, em seu Twitter, que a situação no país estava controlada e que o mercado de ações estava indo muito bem. Em 19 de fevereiro, o presidente afirmou que acreditava que a propagação do vírus seria menor devido ao clima mais quente. No início de março, ele chegou a comparar a covid-19 a uma simples gripe, declarando que a mídia estava promovendo um discurso excessivamente inflamado sobre o coronavírus para alardear a população.

A primeira vez que o presidente estadunidense abordou o assunto de forma mais séria foi em 15 de março, diante das consequências observadas na Itália. Atualmente, os E.U.A. já registram mais de 10 mil casos confirmados e, até o dia 19, registrou 154 mortes.