O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, chegam nesta quarta-feira (13) a Tiriós, no Pará, para debater a agenda governamental com líderes locais.

Os planos do atual governo incluem a construção de uma ponte na cidade de Óbidos, que passará sobre o rio Amazonas, de uma hidrelétrica em Oriximiná e também a extensão da BR-163 até a fronteira com o Suriname.

A ponte ligando as margens do rio e as obras na rodovia serviriam para escoamento de produtos agrícolas do Centro-Oeste, bem como integraria a região Norte ao restante do país (a rodovia, construída na década de 1970, vai do Rio Grande do Sul ao Pará).

A hidrelétrica, por sua vez, forneceria energia para a Zona Franca de Manaus e proximidades, com o objetivo de reduzir o número de apagões.

Bebianno fez referência ao Calha Norte, projeto do Governo de José Sarney (1985-1990), que pretendia fixar a presença militar na região. Segundo ele, o plano seria uma retomada deste projeto e que já estão realizando um mapeamento do local.

Curiosamente, o envio dos representantes se dá logo após a imprensa noticiar que a Igreja Católica estaria sendo monitorada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O chefe do Gabinete de Segurança Internacional (GSI), general Augusto Heleno, chegou a declarar sua intenção de neutralizar a influência de um "clero progressista" na região Norte.

A preocupação do GSI se deve à realização do Sínodo da Amazônia, em outubro, no Vaticano. No evento, que reúne bispos de todo o mundo, será discutida a situação dos povos indígenas e quilombolas que vivem na região amazônica, bem como a nova política de evangelização.

Negando qualquer ação de espionagem, o Gabinete divulgou, em nota, que o evento poderia interferir em assuntos internos, cabendo ao Brasil a gestão da Amazônia.

Militares alegam que há "pressão globalista" para que não sejam realizadas obras na região.

Apreensão

A ida dos ministros Ricardo Salles e Damares Alves se dá visando a redução de eventuais ataques por parte de ativistas, segundo apuração do jornal O Estado de S. Paulo, uma vez que a segurança será ampliada. Desde a eleição de Bolsonaro, ambientalistas têm se mostrado apreensivos e pessimistas com as medidas que poderão ser tomadas em relação ao meio-ambiente.

Em sua conta no Twitter, Sonia Guajajara, que concorreu à vice-presidência pela chapa do PSOL, alertou para o desejo do governo de impor seus planos o mais rápido possível. A pretensão de industrializar a região amazônica em detrimento das leis ambientais já havia sido claramente apontada por Jair Bolsonaro durante sua campanha eleitoral.

Sob a justificativa de ocupar o local para estimular o mercado, o governo desenhou um plano que irá afetar reservas ambientais e territórios indígenas na área de Santarém. A agenda ambientalista é vista por Bolsonaro e por seus ministros como um entrave ao agronegócio e ao desenvolvimento.