A Agência de Inteligência Brasileira (Abin) tem divergência com as opiniões do presidente Jair Bolsonaro sobre o coronavírus. Segundo jornal O Estado de São Paulo, documentos da agência mostram que a entidade tem preocupação com a falta de medidas para conter o contágio da doença, como o isolamento social.

As posições da Agência vão contra as pedidas pelo presidente, que é opositor de qualquer medida de isolamento e de fechamento da economia, para conter o avanço da Covid-19 no Brasil. Além disso, os relatórios falaram sobre subnotificação de dados e falta de leitos para acolher casos da doença.

Abin e os relatórios sobre o coronavírus

Os relatórios da Abin foram produzidos entre os dias 27 de abril e 13 de maio, estes sendo enviados ao presidente Jair Bolsonaro e a outros membros do gabinete do governo, como o Centro de Coordenação de Operação do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento de Impactos da Covid-19 (CCOP), liderado pelo general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil.

Um dos relatórios apresentados pela agência ao governo foi emitido No dia primeiro de maio, citando aumento de casos no Amazonas resultantes do descumprimento de normas de isolamento social no estado. No mesmo documento obtido pelo Estadão, a Abin cita aumento de casos em municípios deste estado, nos quais não haveria leitos de UTI suficientes para atender a demanda.

No dia 11 de maio, outro dos relatórios apontou que medidas de distanciamento social e outras restrições adotadas por alguns estados tiveram contribuição no índice de queda e contenção de casos do coronavírus. Um dos exemplos citados foi o Distrito Federal.

Outro ponto de preocupação nos relatórios da Abin tem a ver com a subnotificação de casos da doença.

Para a Abin, o Brasil teria um número consideravelmente maior de casos de coronavírus do que o reportado, especialmente citando que o país testa bem menos sua população em relação a outras nações.

A razão apontada seria o aumento considerável de mortes cuja causa é Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), um sintoma ligado ao coronavírus.

No relatório, a Abin cita Minas Gerais como exemplo de estado cujos dados notificados oficialmente seriam diferentes das estimativas consideradas de casos 'suspeitos'

Relatórios defendem quarentena

Desde março a agência vem monitorando a progressão de casos do coronavírus no Brasil. Na postura adotada pela Abin, o modelo de quarentena e restrições impostas em alguns países mostraram resultado no controle e 'achatamento de curva' de contágio da Covid-19. Citando exemplos como França, Espanha, Itália e Alemanha, países que adotaram tais medidas no período de explosão de casos em seus territórios.

No mapeamento feito pela agência nos números destes países, a entidade admite que existem algumas oscilações nos casos diários da doença.

Mas aponta que estes países conseguiram adotar estratégias claras para parar o estágio de contágio com medidas restritivas e, assim, conseguir abrir, com ressalvas, seus espaços.

Outro ponto de contenção entre o presidente e a Abin é o uso da cloroquina. O remédio, propagandeado por Bolsonaro para ser usado amplamente no tratamento da doença, não seria nos relatórios da agência um remédio considerado 'promissor' no combate ao coronavírus. O documento cita estudos feitos sobre a droga ou o uso da substância em certos tipos de casos, mas não recomenda o seu uso massificado.

Bolsonaro x Coronavírus

Apesar dos relatórios da Abin terem alertado Jair Bolsonaro sobre as necessidades de se tomar medidas de isolamento social, o presidente manteve a posição de ser contra tais medidas, afirmando que estas não teriam, em sua visão, causado o achatamento de curva de contágio.

O modelo que Bolsonaro deseja adotar é o de isolamento vertical, onde apenas grupos considerados 'de risco' (caso de idosos e pessoas com outras doenças) sejam isolados para que outros grupos possam sair de casa, citando a necessidade de 'reabrir a economia'.

A Abin, em seus relatórios, alega que o aumento de casos da doença em pacientes saudáveis tem subido consideravelmente, contrariando evidências obtidas sobre a Covid-19 até agora.