O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou neste sábado (6) a atitude adotada nesta semana pelo governo federal de alterar o modo de divulgação de dados sobre o coronavírus, incluindo restrições sobre as estatísticas a serem mostradas.

Durante uma live da faculdade IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), mediada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Mandetta fez duras críticas a como o governo tem lidado com a pandemia e a apresentação do número de dados e mortes.

Governo mudou divulgação

O site do Ministério da Saúde dedicado a registrar dados sobre o coronavírus ficou fora do ar no final de semana, apenas retornando com alterações na metodologia de dados.

Números totais das mortes pela doença e o histórico de progressão do vírus foram suprimidos da página. Apenas os casos de novas contaminações, mortes e pessoas curadas são divulgados.

Na visão do ex-ministro, a mudança do governo Jair Bolsonaro, que também chegou a alterar a horário em que boletins diários sobre o coronavírus fossem divulgados para que os números não aparecessem no "Jornal Nacional" (Rede Globo), são uma "tragédia", e que poderiam até gerar divergências entre dados apresentados por diversas entidades.

"Me parece que estão querendo fazer uma cirurgia nos números dos protocolos públicos. Não informar significa o Estado ser mais nocivo que a doença", disse Mandetta.

Mandetta vê erros em condução de militares

Outro ponto citado por Luiz Henrique Mandetta na live foi a presença de militares em funções da pasta. Eduardo Pazuello, o titular atual do ministério, também é oriundo do meio das forças armadas.

Para o ex-ministro, a presença de membros ligados ao meio militar também teria influência nas decisões do governo de alterar a divulgação de dados sobre o coronavírus, afirmando que estes desejariam uma "ótica promocional" ao tomar tais medidas.

"Em guerras, militares são muito acostumados a construir bunkers de segredos inacessíveis. Mas, na guerra contra vírus, a informação compõe a primeira linha de defesa do indivíduo", disse.

"Se essa missão é se passar por sonegar as informações, colocá-las em horário inacessível ou rever, torturar os números para que eles confessem verdades que eles entendam que sejam as que melhor se encaixam para o momento, talvez seja isso que a gente vá presenciar, uma grande noite da ciência", disparou Mandetta.

Mandetta não quer saída da OMS

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende retirar o Brasil da Organização Mundial da Saúde (OMS), a acusando de "atuação política" por não pressionar a China em relação à postura do país quando do surgimento da pandemia. Algo que Mandetta não gostaria de ver.

"Sair da OMS é nos colocar como páreas mundiais na saúde, é sair completamente da mesa. É igual um menino mimado que fala: 'se eu não posso jogar, vou embora pra minha casa'. E ele não sabe que o melhor não é ser o dono da bola, o melhor é jogar futebol e, para isso você precisa de 22" , afirmou.

O ex-ministro vê que o Brasil pode perder espaço na busca por remédios e outros tratamentos se deixar a organização, repetindo o acontecido com os Estados Unidos.