A crise sanitária e o aumento da impopularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) têm feito com que o Centrão almeje novos ministérios. Na quarta-feira (17), pesquisa Datafolha apontou que para 40% dos entrevistados o Governo de Bolsonaro é considerado ruim ou péssimo, a gestão da pandemia da Covid-19 pelo mandatário tem 54% de desaprovação e para 56% dos entrevistados Bolsonaro é incapaz de governar o Brasil.

'Efeito Lula'

Antes dos resultados extremamente negativos para o presidente, porém analisando também o impacto da volta do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o grupo de partidos fisiológicos de centro-direita já tinha imposto difíceis condições para apoiar o Palácio do Planalto.

Cobiça

O Centrão está em busca agora de pelo menos cinco ministérios: Casa Civil, Educação, Minas e Energia, Relações Exteriores e Secretaria de Governo. Este desejo do bloco de legendas avança em dois pilares de sustentação do governo Bolsonaro, o ideológico e o militar. As informações são jornal El País.

Segundo a publicação, o Centrão está apostando alto. Dificilmente os ministros da Casa Civil e Secretaria de Governo, o general Walter Braga Netto e o general Luiz Eduardo Ramos, respectivamente, irão ser trocados. Contudo, o grupo aposta em uma negociação política em que pediriam mais do que realmente podem conseguir para posteriormente afirmarem que abriram mão de alguma coisa.

Os parlamentares do Centrão também querem aproveitar a vinda do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para fazer indicações de substitutos em funções estratégicas no segundo e terceiro escalões, que atualmente são ocupadas por militares na Saúde. São pelo menos 15 cargos comissionados que estão sendo negociados, segundo três líderes do Centrão que o site El País entrevistou entre terça-feira (16) e quarta-feira (17).

Crise

A recusa do nome da médica Ludmilla Hajjar para o comando do Ministério da Saúde desagradou os parlamentares do Centrão, pois acreditavam que a posse dela sinalizava uma mudança de postura na pasta, e não somente uma troca de nomes, como está dando a entender a chegada do médico Marcelo Queiroga para substituir o general Eduardo Pazuello –o médico em suas primeiras falas afirmou que dará continuidade ao trabalho do criticado general Eduardo Pazuello.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi o principal apoiador do nome da médica para o comando da Saúde. Lira ouviu do governo federal que o Centrão teria quatro ministérios, mas o grupo só ficou com um, o Ministério da Cidadania, que foi entregue ao deputado federal João Roma (Republicanos-BA).

Outro membro do Centrão que faz parte do governo é o ministro das Comunicações Fábio Faria (PSD-RN), porém sua indicação é mais por vontade do próprio Bolsonaro do que por uma iniciativa do Centrão.

Impeachment e CPI

O impedimento do presidente da República e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a gestão do líder do Executivo na pandemia são dois instrumentos que deverão ser usados pelos parlamentares do Centrão para fazer pressão em Bolsonaro para tentarem ganhar mais espaço no governo federal.

Sem tempo

O impeachment de Bolsonaro depende da vontade de Arthur Lira. Até fevereiro, Lira afirmava que não iria pautar nenhum dos mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

Mas se notou uma leve mudança de tom de Lira na segunda-feira (15), quando já se tinha informações que Ludmilla Hajjar não seria a nova ministra da Saúde. Em debate promovido pelos jornais Valor Econômico e O Globo, o presidente da Câmara não negou que poderia abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro e declarou apenas que ainda não teve tempo para analisar os processos.

Senado

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que é relativamente próximo de Lira, está se equilibrando entre aceitar a abertura da CPI da Covid e aceitar a abertura das investigações. Ao todo, 31 senadores já assinaram um documento que pede a abertura da CPI, quatro a mais do número mínimo. Pacheco anteriormente declarava ser contraproducente abrir a CPI no momento, mas agora não descarta a possibilidade.

Futuro

As próximas ações do Centrão deverão ser tomadas de acordo com o desempenho do novo ministro da Saúde. Uma mostra que a paciência com Jair Bolsonaro está acabando pode ser vista no tuíte do deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM). Na mensagem de Ramos, o parlamentar afirmou que o novo ministro deve aprender rapidamente o novo ofício. Marcelo Ramos é o primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados e tem atuado como uma espécie de porta-voz do Centrão para assuntos delicados.