A brincadeira do cabo de guerra se instalou por diversos lugares do Brasil. Uma das festas mais populares do mundo, o Carnaval, anda gerando discussões e controvérsias. Faltando pouco mais de três meses para sua realização, o Rei Momo pode passar mais uma vez despercebido e sem seu trono para desfilar por ruas e avenidas.

De um lado da corda estão os defensores de que o Brasil está com uma cobertura vacinal ótima ou aceitável para que o Carnaval 2022 represente a retomada após uma “seca” de mais de um ano. Já no outro lado da mesma corda, estão especialistas e profissionais da saúde que garantem: mesmo com a vacinação, é preciso ter cautela.

Eles acreditam que, como o Carnaval é basicamente uma comemoração coletiva, sua liberação provocará aglomerações, item indispensável para a proliferação do coronavírus.

Risco de retorno?

O risco de uma nova onda da pandemia é alto, pois a contaminação descontrolada motiva esse cenário. Essa é a opinião do epidemiologista e coordenador do Comitê Científico do Governo do Estado de São Paulo, Paulo Menezes. Apesar do cenário otimista em função da imunização nacional, a segurança sanitária é insuficiente em eventos que reúnem grande quantidade de pessoas. Ele chama a atenção de que o Carnaval não é uma festa só do Brasil; estrangeiros viajam para cá no intuito de curtir a folia.

Mesmo reconhecendo que a cidade de São Paulo seja considerada como modelo mundial na aplicação da vacina, ele salienta que o vírus permanece circulando e que, portanto, a pandemia não acabou completamente.

Até o fim do mês de novembro, 70 cidades do estado paulista comunicaram oficialmente que não pretendem patrocinar ou realizar qualquer festividade carnavalesca.

Mariângela Simão, diretora-adjunta da Organização Mundial da Saúde, diz: “Preocupa bastante quando vejo no Brasil a discussão sobre o carnaval. É uma condição extremamente propícia para o aumento da transmissão comunitária.”

A Europa já registra um nível de criticidade, embora tenha um percentual maior de vacinação em relação ao Brasil.

A Alemanha possui um quadro preocupante no aumento de casos.

Até político entrou no debate

Parece mentira, mas não é: o deputado federal Pastor Eurico (Patriota-PE) protocolou um projeto de lei na Câmara dos Deputados que prevê a não realização do Carnaval no ano que vem. Isso valeria para todo o território brasileiro. O motivo é óbvio: a pandemia de Covid-19 e seu recrudescimento no continente europeu.

A matéria aguarda apreciação do presidente da Casa, Arthur Lira. Se passar pelo crivo do diretor da Casa Legislativa, o projeto passa para a fase de tramitação de lei. Enquanto isso não ocorre, a novidade já causou alvoroço nas redes sociais.

Perguntado sobre a questão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi enfático ao falar que, por ele, o Carnaval 2022 não será comemorado, mas frisou: “Só tem um detalhe: quem decide não sou eu. Segundo o Supremo Tribunal Federal, quem decide são os governadores e os prefeitos. Não quero me aprofundar nessa que poderia ser uma nova polêmica”.

Tudo bem na metrópole

Neste sábado (27), a Prefeitura de São Paulo divulgou a lista de blocos que podem desfilar no Carnaval 2022.

Segundo a lista, 440 blocos carnavalescos estariam autorizados a circular pelas ruas da maior metrópole da América do Sul. Cogita-se que 18 milhões de pessoas peguem carona atrás deles.

Nos bastidores, já há movimentação financeira rolando: a Ambev estaria disposta a pagar R$ 23 milhões pelo patrocínio dos quatro dias de festa na “terra da garoa”.

Folia, mas nem tanto

Embora numa rápida pesquisa se tenha constatado que cidades de Pernambuco, Ceará e Piauí se manifestem contra a realização do Carnaval 2022, o tradicionalíssimo reduto da folia popular, Salvador, ainda não se posicionou. Em nota, o Comitê de Assessoramento do Coronavírus da Universidade Federal da Bahia (UFBA) adotou um tom de precaução acerca das consequências da realização do Carnaval na cidade soteropolitana.

De acordo com os especialistas, não existe total garantia de que a transmissão viral cesse nos meses de fevereiro e março.

Os signatários da UFBA alertam de que os supostos benefícios são pequenos frente ao risco de se realizar a festa, a qual pode fomentar o retorno da pandemia a níveis iguais ou piores do que já foram observados nos últimos anos.