Em dezembro de 2018, a Vale obteve autorização do Governo de Minas Gerais para realização de obras de expansão da barragem de Brumadinho que se rompeu no fim de janeiro. Segundo matéria do G1 publicada ontem (10), as obras envolveriam explosões e uso de maquinaria pesada, apesar de laudo anterior alertar para riscos.

A licença aprovada em 11 de dezembro pela Secretaria do Meio Ambiente (Semad) de Minas Gerais autorizava operações nas minas Córrego do Feijão e Jangada, ambas localizadas na área metropolitana de Belo Horizonte. O documento previa, além do uso de retroescavadeiras, uso de explosivos e trânsito de caminhões de grande porte.

Segundo a Vale, nenhuma das atividades havia se iniciado nas estruturas. Um relatório elaborado pela empresa alemã TÜV SÜD, contudo, recomendava que essas ações fossem evitadas, devido ao risco de liquefação na barragem.

O que é liquefação?

A liquefação, uma das causas associadas ao desastre de Mariana, é um fenômeno no qual um material rígido (como os rejeitos de minério) se comporta como fluido devido ao grande fluxo de água. Essa presença da água, que vai se infiltrando no material que deveria estar compactado, deixa as partículas soltas, com pouca aderência, como se fosse areia movediça. Isso pode ocorrer devido ao excesso de chuvas, depósito de cargas feito muito rapidamente, sem tempo de drenagem da água, ou por abalos sísmicos.

O laudo de segurança emitido em julho do ano passado atestava a segurança da barragem em Brumadinho, mas recomendou que o trânsito de veículos pesados fosse proibido no local. Em fotografias anexadas ao documento, a avaliação apontava problemas no sistema de drenagem, que estava entupido pela vegetação. Além disso, a elevação do nível de água deveria ser impedida.

A Semad alegou que a Vale havia entregado apenas o laudo atestando a segurança das estruturas.

Uma dissertação de mestrado em engenharia geotécnica feita por aluno da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2010 já alertava para o risco de liquefação na barragem que se rompeu. Feito por Washington Pirete da Silva, funcionário da Vale, o estudo de campo abordava como o material dos rejeitos estaria suscetível à liquefação.

Silva comentava ainda sobre algumas operações inadequadas no local que deveriam ser evitadas –sugestões ecoadas pelo relatório da TÜV SÜD. Em seu texto, o engenheiro conta que apenas em 2006 foi implantada uma diretriz para as operações na barragem, que existe desde 1976.