Em vídeo divulgado nas redes sociais na quinta-feira (16), o secretário da Cultura, Roberto Alvim, anunciou o Prêmio Nacional das Artes através de uma fala inspirada em carta do ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, a produtores de teatro alemães.

Além disso, como trilha sonora, Alvim escolheu a ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, compositor favorito de Adolf Hitler, que relatou, em sua autobiografia, ter sido uma música decisiva em sua vida.

Com uma bandeira do Brasil de um lado, uma cruz missioneira de outro e a foto de Jair Bolsonaro ao fundo, o secretário fala em um novo projeto para a arte nacional, copiando trechos de um discurso proferido por Goebbels em 1933, que podem ser encontrados no livro "Joseph Goebbels: Uma biografia", de Peter Longerich.

Falando em uma "arte heróica" e nacional, Alvim diz ainda que a arte deverá estar vinculada às aspirações do povo, tendo "grande capacidade de envolvimento emocional", e finaliza com a marcante afirmação de que "ou então não será nada", trecho presente também no discurso do ministro nazista.

A proposta ufanista do secretário da Cultura, que fala ainda em uma qualidade "a partir da nacionalidade plena", guarda ainda outras semelhanças com aquilo que se pregou no regime nazista, como a celebração de mitos fundacionais que enaltecessem a pátria e uma alusão a uma luta contra "o mal".

No YouTube, o vídeo publicado pela Secretaria Especial da Cultura foi removido por conter "discurso de ódio".

Na internet, a repercussão foi ampla e o ministro foi repudiado por diversos veículos de comunicação.

Polêmicas anteriores

Roberto Alvim tem colecionado polêmicas na sua defesa do Governo Bolsonaro, já tendo chamado a atriz Fernanda Montenegro de "sórdida" e acusado o mundo artístico brasileiro de ser "podre" e "demoníaco", segundo o jornal britânico The Guardian.

Em outra ocasião, Alvim prometeu lutar "contra o satânico progressismo cultural".

Durante evento da Unesco em Paris, em novembro do ano passado, o secretário criticou fortemente a arte brasileira que havia sido produzida nos últimos 20 anos, acusando-a de ser parte de um projeto da esquerda para se manter no poder.

Em Lisboa, poucos dias depois, durante a Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola, Alvim chamou Ramiro Noriega, das Universidades das Artes do Equador, de "mentiroso" e "canalha", após Noriega dizer que Bolsonaro censurou Caetano Veloso.

Em seu discurso, o secretário novamente falou em "duas décadas de destruição artística" ao se referir à arte brasileira.

Antes de ter sido nomeado por Bolsonaro, Alvim havia publicado, em suas redes sociais, uma convocação para que artistas conservadores se unissem a fim de criar uma "máquina de guerra cultural".