A Revista Nature Neuroscience divulgou no dia 12 de fevereiro de 2019 um achado científico envolvendo a maturação cerebral do autista em comparação a cérebros de indivíduos neurotípicos, onde os últimos são aqueles com desenvolvimento cerebral comum à maioria da população. Na pesquisa feita, participaram 27 indivíduos portadores do Transtorno do Espectro Autista considerados de 'alto funcionamento', sendo que 2 desses eram mulheres. Vinte e nove (29) indivíduos participantes eram neurotípicos, dentre eles, 12 mulheres.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro, na figura do professor Stevens Rehen, organizou um estudo científico em acompanhamento a organoides, que representam pequenas estruturas (3-5 milímetros) agregadas neuronalmente a partir de células epiteliais ou urinárias reprogramadas.

Desta forma, elas se configuram na estrutura orgânica desejada, mas na forma de uma miniatura. O professor Rehen e a pós-doutoranda, Lívia Goto, resolveram transformar tais células em pequenos cérebros, denominados pela equipe como mini-cérebros.

Maturação cerebral e balanço neuroquímico no Autismo

Pelos resultados de pesquisa obtidos e divulgados pela Revista Nature Neuroscience e utilizando-se da metodologia de pesquisa denominada "interação grupo por tempo", pode-se inferir que ocorria decrescimento em formação estrutural envolvendo a interação da região frontoparietal coligada a outras áreas do cérebro, como aquelas responsáveis pela atenção visual, dorsal, além de redes padrão e subcorticais.

Dessa forma, as ligações neuronais esperadas e necessárias à fase juvenil mostraram-se mais intensas (hiperconectividade), que do grupo neurotípicio no início do acompanhamento, mas decrescentes durante as próximas fases de acompanhamento (poda adaptativa). O grupo neurotípico obteve aumento em intensidade na conectividade dessa interação-rede durante um longo-prazo em comparação ao grupo portador do Transtorno.

Essa diferença temporal envolvendo a conectividade das áreas apresentadas, foi percebida também no gênero feminino e remete ao fato de que há diferenças de sintomatologias no Espectro no decorrer de um diagnóstico.

Sendo assim, o TEA "afeta o desenvolvimento da conectividade intra e inter-sistema do sistema frontoparietal na adolescência e no início da fase adulta", mas demonstrou-se que a "poda adptativa" é realizada ao fim da fase infantil e no início da adulta, possibilitando melhoria dos sintomas.

A pesquisa publicada na Revista Nature deixou algumas ressalvas como a diferenciação desse desenvolvimento oscilátório do frontoparietal em mulheres e homens autistas, uma vez que deverá também ser adicionadas outras variáveis hormonais e púberes de diferenciação entre ambos.

Nas pesquisas realizadas no entorno dos organoides (mini-cérebros), foi possível averiguar desbalanços neuroquímicos no cérebro de portadores do Autismo, confirmando a diferença conectiva neuronal. Dessa forma, a UFRJ pretende avançar nos estudos dessas 'miniaturas orgânicas' na esperança de fornecer melhores respostas medicamentosas em termos neuronais, uma vez que se estará a observar um protótipo do cérebro humano em simulação de várias substâncias psicodélicas ou não nesse orgânica.