Alarmismo ou o alarme soou na hora certa da tragédia? Uma pergunta conveniente a se fazer diante da análise que se faz sobre o poder de destruição de um agente invisível: o vírus da Covid-19.

Com os números atualizados rapidamente e divulgados no primeiro de maio, é possível afirmar que o mês de abril de 2021 foi o pior tanto no contágio quanto nas mortes durante o período difícil da pandemia.

O Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e o Ministério da Saúde anunciaram a perda fatal de 82.266 pessoas ao longo dos trinta dias que compõem abril.

Até então, o mês de março de 2021 (portanto, o mês passado) foi considerado como o ápice: mais de 66 mil pacientes morreram.

Para se ter uma ideia do tamanho do avanço do vírus no Brasil, o recorde anterior aos últimos dois meses citados acima pertencia a julho de 2020; época de inverno, mas com um número mais modesto de fatalidades, com pouco mais de 32 mil óbitos. Comparando-se com março de 2021, julho do ano passado representou quase a metade do que se registra atualmente.

Outro dado para se entender acerca da expansão do vírus pelo território nacional refere-se ao atingimento de recordes de mortes: quase dois terços dos estados da Federação (dezoito para ser exato) superaram a quantidade de mortos ao que se considerava como o topo dessa trágica estatística.

Pode ser mais do que isso

Especialistas da área médica, contudo, acham que estes dados não ilustram com total clareza a situação sanitária do Brasil. A opinião deles está embasada pela falta de testagem em larga escala na população e da subnotificação dos casos.

Apesar de ser uma condição animadora com um índice médio em torno de 2.900 óbitos, não se pode passar a borracha sobre o dia 8 de abril, pois foi neste dia que o Brasil contou 4.249 mortes – o maior número até agora.

Somente na semana entre 4 e 10 de abril, 21.141 pessoas perderam suas vidas.

Mês do desgosto

Popularmente indicado como o mês de desgosto, agosto deve estar com inveja de abril, já que no dia 29, o Brasil ultrapassou a barreira das 400.000 vítimas de Covid-19.

Mais uma vez, a título de ilustração, essa marca foi atingida após (somente) 36 dias de o país ter passado 300.000 mortes.

Um efeito rápido e que se mostra devastador e fulminante.

O alarde em relação às melhoras e diminuição na contaminação e circulação do vírus possui uma ambiguidade oculta: por um lado, estimulou alguns governos locais na adoção de medidas mais flexíveis e relaxando o distanciamento social; por outro lado, esconde a realidade dramática e assustadora de hospitais e UTI´s, os quais seguem com número elevado de internações.

A balança pende mais para o cenário menos otimista e cauteloso do segundo contexto, uma vez que com o aumento da circulação das pessoas nas vias públicas e no comércio, somado a um baixo percentual de vacinação em massa, é grande a probabilidade de ocorrerem aumentos relacionados a novos casos de contaminação.

Isso se traduz num regresso ao patamar das 4 mil mortes registradas em abril. Um panorama que, em parte, foi estimulado pelas festas de fim de ano e das férias de verão. São as projeções dos especialistas.

Entre os três primeiros

Em sua segunda onda de coronavírus, os números absolutos do Brasil permitem afirmar que o país só fica atrás dos Estados Unidos na quantidade de mortes. Mas, dentro do continente sul-americano, a nação verde e amarela é a campeã disparadamente.

Com números alarmantes, instaurou-se, no fim de abril, uma CPI no Senado Federal para apurar e investigar a gestão que levou à crise e ao descontrole da saúde pública durante o mandato do Presidente Jair Bolsonaro.

Não é segredo de que Bolsonaro se opõe à quarentena e ao uso de máscaras.

Também é cético sobre a eficácia das vacinas, mas é defensor de outros remédios como a cloroquina, o que até o presente momento não encontrou respaldo científico acerca de cura ou amenização comprovada.

Desde o começo da pandemia no Brasil, no final de fevereiro de 2020, aproximadamente 14.660.000 pessoas se contagiaram com o coronavírus. Um pouco mais de 10% da população total.

Cemitério na praia

Na sexta-feira (30), aconteceu um protesto efetuado pela ONG Rio de Paz nas areias da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Os integrantes puseram 400 sacos mortuários representando “os brasileiros que tiveram que ser enterrados em covas rasas, após os seus corpos terem sido postos nesses sacos, morrendo sem a mínima solenidade”, declarou Antônio Carlos Costa, presidente da ONG.

O ritmo de vacinação do povo tem sua marcha lenta: por volta de 13% já conseguiu se vacinar com a primeira dose e só 6% do todo foi imunizado com a segunda dose.

O Ministério da Saúde garantiu que até o fim de 2021 terá as doses suficientes para vacinar todo mundo. Resta saber se é para tocar o alarme, se é alarmismo ou alarmante.