Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na quinta-feira, 26, sugere que homens são os principais transmissores do vírus da Covid-19.

Após levantamento epidemiológico com 1.744 casais heterossexuais brasileiros que viviam juntos e não haviam sido vacinados, foi observado que 946 homens se infectaram primeiro, em comparação a 660 mulheres.

Os dados foram coletados de mais de 2 mil casais heterossexuais com média de 45 anos de idade, através de e-mails e questionários, entre julho de 2020 e julho de 2021.

Por viverem juntos, os casais não tomaram medidas de proteção, com uso de máscaras, nem de distanciamento entre si. Esse critério foi necessário para eliminar a influência de variações de comportamento, como o fato de homens serem mais relutantes a usar as máscaras e a manter o distanciamento em geral.

Os casais foram separados em dois grupos, de concordantes, no qual ambos foram infectados pelo SARS-Cov-2 e apresentaram sintomas, e de discordantes, em que apenas uma pessoa apresentou sintomas e a outra permaneceu assintomática. A partir dessa diferenciação, os pesquisadores coletaram material genético dos participantes, a fim de compreender quais fatores tornam a pessoa resistente ao vírus.

Outros estudos

Em abril deste ano, o grupo de pesquisadores do CEGH-CEL, que é coordenado por Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da USP, deu início a um estudo envolvendo 86 casais heterossexuais em que apenas uma das pessoas foi infectada.

A análise do material genético sugere que algumas pessoas têm, naturalmente, uma ativação mais eficiente de um tipo de leucócito conhecido como "exterminador natural" ou, em inglês, "natural killer" (NK).

Zatz explica que a hipótese levantada pelo estudo é a de que indivíduos mais suscetíveis à infecção apresentam, com maior frequência, variantes genômicas que levam à produção de moléculas inibidoras da ativação dessas células NK.

A pesquisa, feita em parceria com o professor Erick Castelli, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), terá seus resultados, já revisados por pares, publicados na revista Frontiers in Immunology.

Um outro estudo, publicado no início de agosto no periódico científico Diagnostics, coordenado pela professora Maria Rita Passos-Bueno, apontou uma maior carga viral presente na saliva de homens.

O exame de detecção do coronavírus, desenvolvido no CEGH-CEL, revelou que homens até os 48 anos de idade apresentam uma carga de SARS-Cov-2 cerca de dez vezes maior do que as mulheres especificamente na saliva. De acordo com Passos-Bueno, essa diferença não foi encontrada em amostras nasofaríngeas.