O grupo Extinction Rebellion realizou uma demonstração neste domingo (9), na Trafalgar Square, no centro de Londres, para chamar a atenção para as mortes de indígenas no Brasil devido à pandemia de coronavírus. O dia 9 de agosto é marcado como o Dia Internacional dos Povos Indígenas.

Os manifestantes derramaram sangue falso nas escadarias em frente à Galeria Nacional e estenderam uma faixa vermelha em que se lia "Indigenous Emergency" ("Emergência Indígena"). Enquanto alguns se deitaram nas escadas, como se estivessem mortos, sete pessoas posaram vestidas em vermelho, com os rostos pintados de branco.

A água das fontes da praça foi tingida com um corante verde.

À chamada Rede de Solidariedade Internacional do Extinction Rebellion se juntaram membros da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). O protesto, além de destacar as mais de 600 mortes de indígenas por Covid-19, visava à arrecadação de fundos para auxílio médico aos povos originários, que sofrem com a falta de recursos e medidas para conter as infecções por coronavírus.

A manifestação também denunciou o desmatamento da floresta amazônica e a destruição da biodiversidade, intensificados desde o início do Governo de Jair Bolsonaro.

De acordo com declaração de um porta-voz do Extinction Rebellion ao jornal Huffington Post, a situação é alarmante e vem se agravando cada vez mais com a atuação de redes de desmatamento ilegal, de mineradoras e também de missionários empenhados em evangelizar indígenas dentro de suas próprias comunidades.

O aumento da violência representa um risco de genocídio real dos povos originários no Brasil.

Celia Xakiabra, da APIB, disse ao Huffington Post que, para cada pessoa indígena que morre devido ao Covid-19, morre também uma parte da história coletiva desses povos.

Morte de indígenas por Covid-19 preocupa ONU

Segundo o portal do Instituto Socioambiental dedicado ao monitoramento da Covid-19 entre povos indígenas, há 23.453 casos confirmados em terras demarcadas e 652 mortes.

Os números oficiais, no entanto, registram apenas 311 óbitos e 17.611 casos.

Na sexta-feira, 7, Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, falou sobre a falta de acesso dos povos indígenas a água potável, a saneamento e a cuidados com a saúde, citando ainda como a vida comunitária pode facilitar as infecções pelo novo coronavírus.

Bachelet se referiu ainda à morte do cacique Aritana, do povo Yawalapiti, na última quarta-feira, 5, como trágica. O cacique, que vivia no Alto Xingu, teve de ser internado em Goiânia após complicações pela Covid-19.

Nas Américas foram registrados, até o momento, mais de 70 mil casos de indígenas infectados pelo novo coronavírus. Bachelet apontou que, além da ameaça representada pela pandemia, os povos que ocupam a região Amazônica enfrentam a poluição causada pela mineração ilegal e o desmatamento provocado pela exploração ilegal de madeireiras e da agricultura latifundiária.