Grupo de apoiadores de Juan Guaidó, autodeclarado presidente interino da Venezuela, invadiu a embaixada localizada em Brasília na madrugada desta quarta-feira (13), por volta das 4h.
As versões acerca do acontecimento ainda são desencontradas, mas sabe-se que os indivíduos têm ligação com a embaixadora Maria Teresa Belandria.
Segundo a Folha de S.Paulo, o grupo, com cerca de 20 pessoas, foi comandado por Tomás Silva, ministro-conselheiro próximo a Belandria. Posteriormente, em comunicado oficial, a ministra informou que a embaixada em questão havia entrado em contato com o Governo venezuelano para reconhecer Guaidó como presidente do país.
As tensões na Venezuela se acirraram com a eleição de Nicolás Maduro para um segundo mandato, em 2019. Oficialmente, Maduro governa o país vizinho com o apoio das Forças Armadas, mas ainda em janeiro seu opositor Juan Guaidó se autodeclarou presidente, sendo reconhecido por Estados Unidos e Brasil. A Organização dos Estados Americanos (OEA), no entanto, defende a convocação de novas eleições.
Invasão na madrugada
A denúncia sobre a invasão foi realizada por Freddy Efrain Meregote Flores, encarregado de negócios da embaixada, que pediu ajuda a aliados, alegando que "pessoas estranhas" haviam entrado no prédio. Pela manhã, um grupo de funcionários que respondem a Maduro tentou expulsar os ocupantes.
Flores nega que a entrada tenha sido facilitada por diplomatas que não reconhecem o governo de Maduro.
De acordo com informações da agência de notícias Sputnik, da Rússia, o governo de Maduro cobrou a agentes brasileiros que garantam a segurança da sede, cumprindo os acordos diplomáticos da Convenção de Viena. A fim de mediar as negociações, um diplomata brasileiro e um policial militar do Batalhão do Rio Branco (unidade do Distrito Federal responsável pela segurança das embaixadas) se encontram no local.
A Polícia Militar foi acionada, mas não pode adentrar no prédio, por se tratar de território venezuelano. Os oficiais cercaram os acessos e estão patrulhando o entorno, enquanto manifestantes pró-Maduro se manifestam em frente ao edifício.
Oficialmente, desde 2016, a Venezuela não tem um embaixador no Brasil, em protesto ao impeachment de Dilma Rousseff.
Ação coincide com início da Cúpula do Brics
A invasão à embaixada venezuelana se deu horas antes do início da 11ª Cúpula do Brics em Brasília. O bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e os respectivos presidentes desses países se encontram no Palácio do Planalto para discutir acordos comerciais e relações entre as nações.
A princípio, foi recomendado a Jair Bolsonaro que deixasse a questão da Venezuela de fora dos debates, uma vez que Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China) são favoráveis a Nicolás Maduro. A estratégia de não gerar polêmicas ainda é majoritariamente defendida pelo governo, mas alguns assessores consideram ser preciso, agora, que Bolsonaro se posicione em favor de Guaidó.
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, reuniu-se com o presidente pela manhã, mas ainda não fez declarações oficiais. Há boatos de que um representante do Itamaraty esteja envolvido com o grupo que promoveu a invasão, mas a acusação ainda não foi confirmada.
Em vídeo publicado no Twitter e compartilhado pelo senador Humberto Costa em sua conta verificada, o deputado federal Paulo Pimenta, ao lado da representação diplomática da embaixada, informa à imprensa que se tratou de um ataque orquestrado e que, entre os indivíduos, estão venezuelanos e brasileiros, todos uniformizados. O parlamentar considera que uma "milícia foi contratada" para promover a ação.
Também em publicação no Twitter, Jair Bolsonaro declarou que repudia o ato de invasão à embaixada. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, no entanto, apoiou, chamando a invasão de ocupação.