A revelação de que pelo menos uma delegada da Polícia Federal (PF) teria falsificado e ainda assinado depoimentos que nunca aconteceram, com a aprovação de procuradores da operação Lava Jato, pode levar a consequências graves para os envolvidos no caso. Os diálogos foram enviados pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal (STF) e foram apreendidos no decorrer da investigação contra hackers que invadiram os telefones de autoridades.

Erika

Na conversa revelada pelo site Consultor Jurídico os procuradores da Lava Jato Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior relatam o que disse uma delegada da Polícia Federal de nome Erika –a suspeita é de eles estivessem se referindo à delegada Erika Marena, que era a encarregada pelos casos do consórcio de Curitiba.

Segundo o que foi dito por Dallagnol, Erika supôs que fosse um pedido dos relatores da Lava Jato e lavrou o termo de depoimento como se ela tivesse ouvido a testemunha, com até mesmo um escrivão, mas ela não ouviu nada. "Dá no mínimo uma falsidade... DPFs são facilmente expostos a problemas administrativos", afirmou o procurador.

Cinema

Figura de destaque em Curitiba, Erika Marena foi interpretada no cinema pela atriz Flávia Alessandra no longa-metragem "Polícia Federal — A lei é para todos". Marena tem um triste episódio no currículo. Depois de sair de Curitiba e da operação Lava Jato, ela se mudou para Santa Catarina, onde ficou no comando de uma operação que investigava suposta corrupção na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em que o reitor da universidade, Luiz Carlos Cancellier, foi preso.

Cancellier acabou sendo posto em liberdade, porém foi impedido de pôr os pés na universidade enquanto o inquérito estivesse em andamento. O professor se matou pouco tempo depois, em outubro de 2017. O inquérito não apresentou nenhuma prova de irregularidade até o momento.

Advogados criminalistas e constitucionalistas ouvidos pela Consultor Jurídico afirmam que os fatos narrados são de extrema gravidade e, caso se comprovem verdadeiros, podem configurar crimes como: falsidade ideológica, fraude processual e prevaricação.

O advogado constitucionalista e criminalista Adib Abdouni é a favor de uma investigação imediata contra a delegada da PF. O magistrado afirma que suposta conduta de Erika Marena se agrava por ela ser uma funcionária pública que se prevaleceu do cargo.

Conrado Gontijo, advogado criminalista e doutor em direito penal pela USP, falou que houve possível falsidade ideológica no documento, pois teria sido feito um termo de depoimento com dados que não representavam a realidade.

Ainda há a prevaricação dos agentes públicos que souberam do ocorrido e não tomaram nenhuma atitude. O caso é muito sério e deve ser apurado para a possível responsabilização dos culpados, concluiu Gontijo.