Tido como um dos pilares na composição dos Ministérios e ícone de uma ideologia mais conservadora, o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, escreveu uma série de mensagens em seu Twitter.

As postagens foram publicadas no dia primeiro de maio, e Ernesto Araújo admite que o Governo de Jair Bolsonaro perdeu a “alma” e o “ideal”. Em sua opinião, a administração do Governo Federal tornou-se tecnocrática e que “o projeto de construir uma grande nação minguou no projeto de construir uma base parlamentar”.

Mais adiante, Ernesto expressou angústia e discordância perante a mudança radical que se observou na condução, no ideário e na perda do foco político original, propostos desde a vitória nas eleições de 2018.

Quanto à solidez e à independência política, Ernesto lamenta que a eficácia da articulação foi sumindo, permanecendo à mercê dos generais da reserva e de deputados licenciados. Não mencionou nomes.

Dois anos

Ernesto Araújo ficou dois anos como chanceler do Brasil e não suportou a pressão vinda de instituições, como o Congresso Nacional, e de setores da sociedade, como os representantes do agronegócio e empresários.

Amigos do embaixador acham que sua demissão no final de março teve a participação e a pressão vinda do bloco do Centrão. Mesmo com apoio de parte da ala ideológica e do deputado Eduardo Bolsonaro, ele não resistiu e pediu demissão das Relações Exteriores.

Poucos dias antes de sair do cargo, ex-chanceler deu uma entrevista e disse que se considerava alinhado ao pensamento do Presidente.

Achava injustas as críticas recebidas sobre a condução e o desempenho do Governo Federal em relação ao combate ao coronavírus. Também manifestou a não concordância de colocarem o Brasil numa posição isolada do resto do mundo, e diverge da intenção de construírem uma imagem negativa do país no cenário internacional.

Em sua carta de demissão apresentada no fim de março, Ernesto expressou repugnância ao denunciar uma “narrativa falsa, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros.”

O sistema

Numa de suas postagens no Twitter, Ernesto Araújo diz que a gestão de Bolsonaro poderia produzir avanços, se não fosse a reação do que ele denominou de “sistema”.

À certa altura, o ex-ministro adota um tom ameno e crê no sonho de Jair Bolsonaro em conseguir mudar o Brasil e declarou sua continuação em apoiar o Presidente. Mas, frisou que é necessário um apoio vindo do povo para que isso saia da teoria e seja posto em prática.

Porém, em seguida, Ernesto é mais crítico ao mencionar as privatizações e a aprovação das reformas, dois itens que constam na agenda política do Presidente Jair Bolsonaro. Para ele, estas duas ações são insuficientes para promover as mudanças no Brasil. Assim foi o conteúdo da postagem: “Leilões, privatizações, reformas tributária e administrativa? Se não for combatida a essência do sistema, estas serão reformas ‘Gattopardo’: mudanças para que tudo permaneça igual.

Nenhuma ‘articulação política’ vai mudar o Brasil. Somente a pressão popular”. A alusão a “Gattopardo” é de um livro escrito pelo autor italiano Giuseppe Tomasi de Lampedusa.

Numa mistura de desabafo, crítica e apoio, Ernesto Araújo faz uma cobrança direcionada a Jair Bolsonaro. Ele escreveu que o povo precisa pedir aquilo que o então candidato à cadeira máxima da Nação prometeu em 2018: combater e destruir o sistema, ser o líder de uma nova era histórica e constitucional e o executor de uma missão.