Perto da expirar o prazo, o Partido dos Trabalhadores (PT) ainda não fechou ou bateu o martelo acerca da chapa presidencial composta por Lula, na presidência, e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmim, como seu vice.

Segundo o rito democrático, os partidos políticos têm o mês de abril como limite para lançamento oficial dos candidatos às Eleições de 2022. Incluindo a Presidência da República.

Tradicional partido de esquerda, o PT vive momentos de divisão e questionamento internos. A temperatura subiu após uma reunião virtual na sexta-feira, 04/03, em que alguns dirigentes escolheram mostrar sua insatisfação em torno do nome de Geraldo Alckmim.

O estopim

Dois nomes principais do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão e José Genoíno, criticaram o desempenho do ex-tucano no Governo de São Paulo. Considerada uma gestão devastadora, Falcão foi mais longe e lembrou que Geraldo Alckmim condenou publicamente a volta de Lula ao poder. Ele (Alckmim) comparou o mesmo gesto de volta à cadeira principal do país como o retorno ao local do crime.

Em seguida, Rui Falcão deu menos importância ao velho argumento que circula por aí: a de que a palavra final em todas as decisões dentro do PT é de Lula e ponto final.

Mais moderado, José Genoíno acha que a aliança costurada entre os dois nomes pode ser um equívoco “porque está exigindo concessões ao modelo neoliberal.”

Porém, tanto Genoíno quanto Falcão são favoráveis que a aprovação da chapa Lula-Alckmim passe por votação interna.

Essa falta de diálogo e de debate em torno da questão incomoda também outras personalidades do partido. É o caso do ex-deputado Renato Simões.

Já Celso Marcondes, ex-diretor do Instituto Lula, chamou a atenção para a falta de afinidade dos projetos políticos implantados por Geraldo Alckmim com os do PT. Uma prova disso se encontra nas palavras do ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, ao lembrar que o ex-governador de São Paulo foi um dos maiores incentivadores da privatização de empresas.

Entre a cruz e a espada

O aquecimento da polêmica em torno da montagem da chapa não para por aí. Outro que se encontra na berlinda e sob olhares suspeitos é o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Figura principal que tenta viabilizar a aliança entre Lula e Geraldo Alckmim, Haddad é um possível candidato ao governo do estado de São Paulo.

E dentro do próprio PT, já se questiona como seria o apoio do ex-tucano quando ele tiver que subir ao palanque junto com Fernando Haddad.

Aparentemente, Haddad obteria certo benefício; mas há que se perguntar se o custo dessa operação de aproximar e colar duas personalidades de tendências ideológicas contraditórias valeria a pena.

Movimento de forças

Algumas alas do Partido dos Trabalhadores organizaram um abaixo-assinado contra a confirmação da chapa presidencial pretendida. Até o momento, 1.300 componentes confirmaram sua adesão por meio on-line. No conteúdo do documento, destaca-se que o ex-tucano “tem uma longa trajetória de combate às posições nacionais, democráticas, populares e desenvolvimentistas”.

Em sentido contrário, outras figuras do PT defendem a liga entre Lula e Alckmim como forma de garantir e ajudar na vitória do próprio Lula.

Todo esse alvoroço não incomoda a principal estrela do partido: logo no início do ano, Lula aceita sua aliança com Geraldo Alckmim. “Da minha parte não existe nenhum problema de fazer aliança com Alckmim e ter ele de vice. Nós vamos construir um programa de interesse para a sociedade brasileira”.

Depois de 33 anos no PSDB, Alckmim procura outro partido; a preferência tem sido o PSB, o que do ponto de vista institucional seria o mais adequado para ratificar de vez a união entre petistas e socialistas. Mas, Alckmim também recebeu convite do Partido Verde (PV) para ingressar em sua base.

Em certas ocasiões, basta empenhar a palavra que tudo está feito e pronto. A política não funciona necessariamente assim: além do debate e da votação, é preciso o rito formal, ou melhor, a oficialização das intenções, o que parece um tanto distante, a ver pelos movimentos internos do Partido dos Trabalhadores. Enquanto isso, o relógio tem sido o pior inimigo.