Em matéria publicada nesta terça-feira (3), o jornal britânico Financial Times apontou uma preocupação de analistas financeiros quanto à confiabilidade das estatísticas oficiais do Ministério da Economia do Brasil. Assinada pelo jornalista Jonathan Wheatley, a notícia é de que os dados foram revisados duas vezes em menos de uma semana, o que leva especialistas a questionarem o tamanho das falhas.

De acordo com o jornal, as dúvidas começaram a surgir na última semana, após a desvalorização da moeda brasileira, causada pela queda nas exportações entre os meses de janeiro e outubro.

Na quinta-feira (28), o real mostrou sinais de recuperação após o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, divulgar que os números da exportação, nas primeiras 4 semanas de novembro, não havia sido de US$ 9,7 bilhões, mas de US$ 13,5 bilhões.

Com esta correção, o país teria obtido um superávit de US$ 2,7 bilhões, e não um déficit comercial de US$ 1,099 bilhão, como se pensava anteriormente.

Em nota oficial, a Secretaria do Comércio Exterior (SECEX), ligada ao ministério, alegou que "inconsistências relacionadas à transmissão e à recepção dos dados", havendo a necessidade de atualização das informações. Ainda conforme o ministério, possíveis falhas no registro de grandes números de declarações feitas por exportadores e alterações estão sendo monitoradas por técnicos da pasta.

Os dados para setembro apontam um acréscimo de US$ 1,37 bilhão em relação ao número anterior, enquanto os de outubro, revisados, acrescentam US$ 1,35 bilhão às estatísticas.

Na terça, a divulgação do Produto Interno Bruto levantou novas dúvidas, uma vez que, tendo sido melhor do que o esperado, o índice não parece consistente ao fato de as empresas estarem com estoques extraordinariamente grandes, algo que deveria afetar negativamente a economia.

O que dizem especialistas

Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do grupo ING Financial Markets, comentou que pode ainda haver uma revisão quanto ao PIB, diante dessa contração em exportações no terceiro trimestre e dos grandes estoques.

Com a divulgação dos novos dados, o real apresentou leve valorização diante do dólar, passando de R$ 4,28 na quinta-feira para R$ 4,18 na sexta (29).

Alberto Ramos, analista da Goldman Sachs em Nova York, declarou ao Financial Times que as revisões dos dados não levantam nenhuma suspeita de manipulação, mas que se trata de um grande erro com o qual investidores perderam ou ganharam dinheiro em função de negligência ou incompetência de setores do governo. Isso tem um potencial negativo no atual período de ansiedade quanto às balanças comerciais instáveis.